33. A Solidão do Poder
- Ivan Abreu Paiva
- 24 de mar. de 2016
- 2 min de leitura

Quando atuava como consultor, permaneci residente em alguns projetos de longo prazo e pude conhecer a rotina da organização e alguns de seus líderes.
Durante um daqueles almoços que fazemos depois das 13:30hs, observei um profissional que era gestão da organização e almoçava sempre sozinho. Curioso sobre quem seria esta pessoa, soube então que ele era o diretor de um programa orçado em mais de U$ 700 milhões. Muito poder e sozinho, de cabeça baixa...
Embora já conhecesse este “fenômeno”, os sentimentos variaram entre consternação, piedade e um pouco de revolta. Como isto pode acontecer?
Na carreira de gestão e liderança, lidamos com profissionais de todos os níveis de qualificação e social. Você dará reporte para proprietários, acionistas, executivos, fornecedores, clientes, patrocinadores, investidores, e também vai tratar com os níveis mais humildes, no sentido que a sociedade rotula.
Esperamos intuitivamente e até como uma regra, que quanto mais alto na posição da organização, maior separação e soberba vamos encontrar. Por uma ironia da raça humana, o orgulho e a soberba estão presentes em todos os níveis sociais, financeiros e de educação; embora pareça um paradoxo, mas esta é a nossa natureza.
Na prática, nossas equipes de execução e suporte são compostas por profissionais de todas as classes sociais, inclusive das mais humildes; ficaríamos surpresos ao conhecer a verdadeira história de vida (além do verniz diário) de alguns que estão ao nosso lado.
O fato é que quanto mais galgamos os tão almejados degraus da pirâmide técnica, profissional e social, buscando nossa realização íntima, mais nos isolamos, motivado pela falta de tempo para os relacionamentos pessoais, soberba, prepotência, medo, autoproteção, por não ver mais “valor agregado” em muitos que estão à nossa volta, .... Acredito que Maslow tenha pensado nestes “efeitos colaterais”, ao nos realizar, perdemos o que nos realiza.
O fato é que no ambiente corporativo o líder é uma pessoa que transita entre mundos distintos, cercado por pressões seu compromisso com a vida familiar, seus anseios pessoais, sua equipe, os gestores pares, seu(s) superior(es) imediato(s) (as vezes temos muitos....), mudanças tecnológicas, redução de custo, fazer mais com menos, jargões da eficiência e eficácia que tanto gostamos de explicar a diferença, um dia curto de apenas 24hs. Tudo isto induz à abstração, fuga dos relacionamentos, além das fronteiras do tempo para ele mesmo.
No fim do dia e um dia quando sairmos da cadeira e, no fim da vida que certamente vai findar vamos olhar para tudo e ver se gastamos nosso tempo com ações sem propósito e sem valor.
Por enquanto, enquanto é dia e temos força, podemos ponderar, aplicar o nosso coração em nossos relacionamento e mudar.
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